OPINIÃO: Paulo Jorge Pereira


Paulo Jorge Pereira, treinador de andebol que já passou por clubes como F.C. Porto e C.B. Cangas (Division Honor B - Espanha), responde ao email enviado pelo o nosso jovem técnico dos Infantis questionando os sistemas defensivos zonais utilizados por vários técnicos em equipas de Infantis. Sem entrar em qualquer tipo de polémicas, Paulo Jorge Pereira defende o 3:3 e o 5:1 mas aproveita para dar algumas dicas com exercícios práticos.

Obrigado Mário Navarro pela pergunta. Ainda que seja um tema sempre muito debatido, Espero que seja um bom motivo de discussão!
A minha opinião está implícita no estrato do artigo que a seguir podem ler acerca de conteúdos defensivos. Sendo formadores, devemos privilegiar a aprendizagem de relações que se sobrepõem ao sistema a aplicar. A escolher um sistema, não poderemos numa fase de iniciação optar por um dispositivo somente com uma linha defensiva já que determinados conteúdos defensivos são praticamente eliminados do jogo como é o caso do deslizamento tão importante numa fase posterior. Sou de opinião de que deveríamos iniciar com sistema 3:3 alternando com 5:1. O sistema 6:0 deveria ser trabalhado já numa fase de aperfeiçoamento a partir do escalão juvenil.

Numa fase de iniciação/aperfeiçoamento das relações entre defensores, a figura 4 ilustra dois exercícios em espaço amplo, um em que os defensores iniciam o trabalho de forma escalonada e na outra em que o fazem de forma alinhada.



Fig. 4 – 2X2 em espaço amplo (defensores alinhados e escalonados)

Em ambos os casos, com o desenrolar do exercício, podemos encontrar todos os meios tácticos de grupo, enfatizando no primeiro o deslizamento e no segundo a troca de marcação. A estrutura do exercício pode ser modificada de acordo com os objectivos a atingir. Se por exemplo no primeiro caso o jogador com bola não tiver um colaborador como apoio, ao ter que utilizar o drible, o seu defensor par pode procurar condições para utilizar o desarme, ao mesmo tempo que deve deslizar sem trocar de oponente.
Tendo como ideia principal a utilização do deslizamento como meio táctico de grupo, é possível introduzir outros elementos a potenciar de acordo com o formato do exercício, já que a existência de um colaborador como apoio pode potenciar a utilização da dissuasão ou mesmo da intercepção. Desta forma condicionamos o início do exercício para que possamos ver reflectidos determinados conteúdos tácticos, posteriormente, a continuidade do exercício determina a tomada de decisão dos defensores. Dada a interactividade do jogo, o primeiro exercício pode atingir características do segundo e vice-versa, no entanto os dois defensores devem ter como propósito controlar os oponentes de forma a estarem sempre no seu campo visual. Assim potenciamos a utilização de meios tácticos associados à marcação do oponente em proximidade e à distância, onde a obstrução de trajectórias é constante, bem como a utilização adequada da posição do tronco. Como o espaço é amplo, é necessário utilizar diferentes tipos de deslocamento. No segundo exercício (defensores alinhados), os defensores devem procurar manter o alinhamento defensivo.
A figura 5, mostra um exercício com característica mais complexas, onde podemos observar todos os conteúdos a trabalhar na defesa independentemente do formato defensivo que possamos considerar numa fase posterior. Aqui aparecem diferentes e variados elementos tácticos, individuais e de grupo, isolados ou em relação com outros. Note-se que o exercício decorre em espaço amplo enriquecendo o trabalho desenvolvido pelos apoios, dada a necessária variedade de deslocamentos.


Fig. 5 – 3X3 em espaço amplo (defensores alinhados / escalonados)

Em determinadas circunstâncias, poderíamos fazer uma translação destes dispositivos para formatos defensivos normalmente utilizados, como se pode observar nos exemplos da figura 6

Fig. 6 – Relações possíveis entre defensores contíguos em diferentes sistemas defensivos

A relação que se estabelece entre os defensores de acordo com determinadas variáveis, deve estar clarificada tendo em conta as competências de cada posto específico. Esta variação depende do tempo, do espaço, da localização dos companheiros (especialmente dos postos contíguos), dos adversários e da bola.
Tendo como base estas variáveis, poderemos construir regras de funcionamento de um determinado sistema de forma a construir padrões perceptivos que conduzam a formas de actuação coordenada entre os diferentes intervenientes.
Existem diferentes sistemas defensivos e variantes dentro do mesmo formato que nos permitem afirmar que, na actualidade um sistema defensivo é apenas um ponto de partida. Ainda que consideremos um mesmo sistema defensivo, verificamos uma grande variabilidade quanto a regras de funcionamento.